A Chacrona (Psicotria Viridis):
A substância N-Dimethyltryptamine (DMT) está presente nas folhas
da Chacrona (Psicotria Viridis). O chá das folhas, ou as folhas, não
são psico-ativas quando ingeri-das isoladamente devido à rápida
des-truição destes alcalóides pela Monoamina Oxidase (MAO),
uma enzima naturalmente presente no organismo. A estrutura da DMT, como a de
outros compostos psico-délicos, é bem semelhante à da serotonina
(5-Hidroxitriptamina ou 5-HT),um importante neurotransmissor de modulação.
A serotonina age naturalmente, desinibindo controles e processos reguladores
no cérebro. Suponha-se que tanto o acréscimo dos níveis
de serotonina (efeito do Mariri) como os da DMT afeta os neurônios serotonérgicos,
promovendo uma hiper-estimulação e modulação, que
desencadeia um largo espectro de efeitos como liberação de emoções
reprimidas, recordações de memórias esquecidas e geração
de imagens.
Sinergismo Químico Mariri/Chacrona:
A DMT foi produzida em laboratório em 1931. Desde o inicio descobriu-se
que a substância produzia efeitos intensos quando aplicada por via intramuscular
em doses di-minutas de alguns miligramas (na ordem de 0.7mg por kg de peso),
mas que em con-trapartida era inativa por via oral até mes-mo em doses
1000 vezes superiores. Uma vez bem estabelecido a sua inatividade por via oral
levantou-se a necessidade de se explicar como doses diminutas,de aproximadamente
29 mg de DMT, tipicamente ingerida numa Cerimônia de Ayahuasca, são
capazes de produzir efeitos intensos.
A enzima Monoamina Oxidase (MAO) é a chave do mistério. Esta
enzima, fisiologi-camente presente no sistema digestivo, tem como função
destruir as diversas mo-noaminas naturalmente contidas nos ali-mentos no sentido
de proteger as diversas funções cerebrais mediadas por neuro-re-ceptores
ativados por monoaminas en-dógenas.
Sendo a DMT uma monoamina ela passa a ser imediatamente, tão logo ingerida,
oxidada e decomposta pela enzima MAO ao nível do intestino. Mas, no
caso da Ayahuasca, acontece que os demais alcalóides presentes na poção
- as Beta-carbolinas trazidas pelo Mariri - inibem momentâneo e reversívelmente
a enzima intestinal MAO a ponto de evitar a degradação da acompanhante
DMT na área digestiva, ficando assim disponível para absorção
e penetração na corrente sanguínea e sistema nervoso central.
INOCUIDADE DO CHÁ:
Entre 1991 e 1993, a Universidade Federal de São
Paulo (antiga Escola Paulista de Medicina), Universidade de Campinas, Universidade
do Estado do
Rio de Ja-neiro, Universidade do Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas
Amazônicas (INPA), Universidade da Califórnia, Universidade de
Miami, Universidade do No-vo México e Universidade de Kuopio (Finlândia),
foram convidados por inciativa de uma das igrejas sincréticas Brasileiras,
a UDV, para gerenciar uma pesquisa cientifica, intitulada "Farmacologia
Humana da Hoasca, chá usado em contexto ritual no Brasil".
A pesquisa foi articulada pela direção central do Centro de Estudos
Médico-Cien-tífico da União do Vegetal, órgão
interno da instituição, que reúne seus adeptos profissionais
de áreas relevantes. Os resultados constatam que o chá Ayahuas-ca é inofensivo à saúde.
A pesquisa está publicada em importantes revistas científicas
como: Psycho-pharmacology, em texto assinado por J. C. Callaway (PhD), e The
Journal of Nervous and Mental Disease", em texto de Charles S. Grobb (PhD).
Este estudo se deu em Manaus e envolveu nove centros universitários
e insti-tuições de pesquisa do Brasil, Estados Unidos e Finlândia,
financiados pela fun-dação norte-americana Botanical Dimension.
A pesquisa começou a ser plane-jada em 1991 e aconteceu em 1993. Consistiu
em aplicar testes laboratoriais e questionários, dentro dos procedimentos
científicos padrões, em usuários da Ayahuasca. Eram pessoas
de faixas etárias variadas, dos meios urbano e rural, freqüentadores
assíduos dos cultos. Os testes foram também executados em não
usuários servindo de grupo de controle.
A avaliação psiquiátrica conduzida pelo Departamento de
Psiquiatria da Univer-sidade Federal de São Paulo, Centro de Referência
da Organização Mundial da Saúde, não encontrou
entre os usuários pesquisados nenhum caso de depen-dência, abuso
ou perda social pelo uso da Ayahuasca, aspectos presentes em usuários
de drogas proscritas pela legislação.
As conclusões comparativas são surpreendentes. A primeira delas,
confirmando a afirmação de que o chá é inócuo
do ponto de vista toxicológico: não se cons-tatou "nenhuma
diferença significante no sistema neurosensorial, circulatório,
renal, respiratório, digestivo, endócrino entre os grupos experimentadores
e de controle".
Nos testes psiquiátricos, foram aplicados os recomendados pela ortodoxia
cien-tífica, o CIDI (Composite International Diagnostic Interview),
com os critérios do CID 10 e DSM IIIR, e o TPQ (Tridimensional Personality
Questionnaire). Constatou-se que os usuários da Ayahuasca, comparativamente
aos não usuários (grupo de controle) mostraram-se mais "reflexivos,
resistentes, leais, estóicos, calmos, frugais, ordeiros e persistentes".
E ainda: mais "confiantes, otimistas, despreocupados, desinibidos, dispostos
e enérgicos". Exibiram tam-bém "alegria, hipertimia,
determinação e confiança elevada em si mesmo". Os
examinandos apresentaram desempenho significativamente melhor que os do grupo
de controle quanto à capacidade de lembrar as palavras na quinta ten-tativa.
Foram melhores também em "número de palavras lembradas,
recor-dação tardia e recordação de palavras após
interferência".
Embora o protocolo de estudo não permitia separar os benéficos
atinentes ao contexto religioso dos efeitos do chá em si, esta pesquisa
confirme a impressão geral – decorrente da sua utilização
milenar – da inocuidade do chá. De fato não se conhece
caso de lesões e doenças provocadas pelo seu uso "in natura",
sem adulterações ou misturas.
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